CINEMA E MEMÓRIA RIO DE JANEIRO
Portal Formatura: 08/10/2013 às 11:22:22
A cidade maravilhosa em suas diversas perspectivas: as belezas naturais, o estilo carioca, o samba, o choro, o funk, as malandragens da Lapa e caminhadas na orla de Copacabana. Todas elas já ganharam as telonas e continuam inspirando cineastas, que vêm do mundo todo filmar o Rio – como cenário, como tema ou como personagem. Essas várias faces da cidade no cinema são o tema do Recine 2013 - Festival Internacional de Cinema de Arquivo que apresenta de 25 a 29 de novembro sua décima segunda edição: O Rio em prosa e fitas.
O curador Mauro Domingues explica que a escolha do tema se deve a vários fatores: “Primeiro, há a questão das transformações por que a cidade está passando, que afetam o cotidiano do cidadão. A gente espera que todas essas obras, transtornos e gastos tragam mais benefícios à cidade do que dois grandes eventos. Segundo porque o cinema no Brasil começa no Rio de Janeiro e, terceiro, porque o Rio sempre foi um lugar de produção audiovisual muito grande, e temos aqui grandes arquivos de filmes, como os do Arquivo Nacional, da Cinemateca do MAM e do CTAv, Centro Técnico do Audiovisual da Secretaria do Audiovisual do MinC", diz o curador.
Segundo Mauro, que é coordenador de Preservação do Acervo no Arquivo Nacional, as primeiras imagens filmadas em solo brasileiro foram feitas em 1898, pelos irmãos italianos Alfonso e Pasquale Segreto, em terras cariocas. “É a versão oficial, mais aceita pelos historiadores”, explica. E o Rio foi sede da Cinédia, da Atlântida Cinematográfica, da Brasil Vita Filmes, do INCE, do Laboratório Líder e muitas outras companhias consideradas imprescindíveis para a existência do cinema nacional. “Nessa edição vamos inclusive exibir uma filme da Cinédia, que continua em atividade e é a produtora mais antiga do país: Ganga bruta, de 1933”, conta o coordenador.
O festival aborda o tema da edição sem perder seu foco principal: a questão da preservação dos filmes e manutenção dos acervos. “Começamos o REcine fazendo apenas um dia de evento, com um debate que reunia um representante de cada instituição convidada – todas ligadas à preservação audiovisual – e, ao final, cada uma exibia um curta de seu acervo. Depois fomos ampliando, abordando subtemas, que já foram movimentos revolucionários, rádio, cinema italiano, humor... mas sempre mantendo o foco na questão da preservação do audiovisual e do uso de filmes de arquivos”.
De lá para cá, o REcine cresceu e consolidou seu espaço e importância no cenário audiovisual brasileiro. A edição de 2013 traz mais de 70 filmes, além de debates e oficinas, e acontece no Arquivo Nacional e no MAM até o dia 29 de novembro. Um dos títulos inusitados da programação é um filme familiar doado ao Arquivo Nacional, de 1931: um aniversário no Méier, em que filmaram a festa e o bairro. “Tem todos os problemas do filme doméstico, mas é uma fonte histórica”. O evento é fruto de uma parceria do Arquivo Nacional com a produtora Rio de Cinema. A entrada é franca.
Além da mostra informativa, com filmes que abordam o tema – Rio em prosa e fitas –, há a mostra competitiva. “Para competir, 40% do tempo do filme tem que ser feito com material de arquivo. Esse ano temos, além de filmes brasileiros, alguns latinos, italianos, etc”, conta Mauro. “Encerraremos o evento com um filme inédito, A arte do renascimento: uma cinebiografia de Silvio Tendler, do Noilton Nunes. O Silvio Tendler talvez tenha sido o cineasta brasileiro que mais e melhor usou filmes de arquivo. Vamos fechar com chave de ouro”, recomenda Mauro.
Cinema a salvo do tempo
A importância da preservação dos filmes, foco principal do REcine, tem sido cada vez mais reconhecida no país. Há uma conscientização crescente dos cineastas em relação ao cuidado com sua filmografia e ao valor das imagens de arquivo e há também o crescimento da percepção do público de que filmes são fontes históricas.
“Atuo nessa área desde o início dos anos 80 e consigo perceber uma evolução desse segmento. Fui autodidata, mas hoje existe uma cadeira no curso de cinema da UFF que trata de preservação. Há dois festivais sobre o tema: o REcine e o Cine OP, de Ouro Preto. O Festival do Rio já há alguns anos tem uma sessão dedicada a filmes restaurados com mesa de debates. Há editais específicos para o campo. São poucas e pequenas ações, mas que começam a tomar fôlego”, enumera o curador.
No entanto, Mauro destaca que ainda é preciso avançar muito na área: “Infelizmente são raros ainda os cineastas que têm uma preocupação com seu acervo. A gente já perdeu mais de 90% dos primeiros filmes produzidos no Brasil. Só que há exceções: o Nelson Pereira dos Santos, nosso maior cineasta vivo, acabou de restaurar toda a sua filmografia. A do Glauber também foi restaurada. O nosso festival é o espaço para falar sobre isso e estimular novas ações”, acrescenta.
O festival produz ainda a revista REcine, uma fonte de pesquisa sobre o tema. O décimo número, que será lançado nessa edição, traz um dossiê ilustrado sobre a relação da cidade do Rio de Janeiro com o cinema. São 16 artigos e uma entrevista exclusiva com o fotógrafo e cineasta José Inácio Parente.
Fonte: cultura.rj.gov.br